3 de fev. de 2011



33.

Nuno de Figueiredo


Porque agora o que mais nos inquieta
nesta funda ravina onde de rastos
o corpo declinamos suportamos onde o
canto dos pássaros se apresta ao exílio
capaz deste deserto porque agora

aquilo que nos faz voltar os olhos
e não ver além das cores o branco e
o silêncio além da música do sangue
pelos troncos e do frio nos ramos e 
nas sebes que ornam o tempo ano a ano

aquilo que agora nos acode é sermos
a voz única que grava nesta pedra
os sítios da memória os rituais
da espera porque agora reparamos e
nos frutos sentimos já os dentes com

a nova revolta chamada talvez resignação
porque temos é forçoso de aceitar que a
estação que vivemos agora e se eterniza
não é mais do que a única estação.


© Nuno de Figueiredo
In, A Única Estação
edições quasi
Portugal


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