ENIGMA
António Salvado
Rememoro as ausências que não tive
quando o amor a elas obrigava:
foram muitas chegadas sem partida
De comboio avião ou de navio
quantas ‘stações e quantos cais de embarque
quantos aeroportos: um desfile
de bilhetes comprados e viagens.
Estranha comunhão: amor/ausência
irmanavam em tal mesma presença
como se a dor beirasse as alegrias.
Nem sei porquê razões de tantas fugas:
levo as mão ao meu rosto, conto rugas,
mas não recordo agora o que seria.
© António Salvado
Nasceu em Castelo Branco a 20 de Fevereiro de 1936 - Portugal
In O Gosto de Escrever (1ª ed. 1997)
Poema incluído na Obra III, A Mar Arte, 1999
2 comentários:
Hay,
Esse é uma daqueles poemas de ausências imensas.
Sempre que olho essa foto (no entanto) lembro na hora de um poema bonito que falava de um trem na neve, que uma colega um dia escreveu.
Bjs,
carol
Fantástica, a profundidade de António Salvado.
Postar um comentário