18 de mar. de 2011



ENIGMA

António Salvado


Rememoro as ausências que não tive
quando o amor a elas obrigava:
foram muitas chegadas sem partida
De comboio avião ou de navio
quantas ‘stações e quantos cais de embarque
quantos aeroportos: um desfile
de bilhetes comprados e viagens.
Estranha comunhão: amor/ausência
irmanavam em tal mesma presença
como se a dor beirasse as alegrias.
Nem sei porquê razões de tantas fugas:
levo as mão ao meu rosto, conto rugas,
mas não recordo agora o que seria.


© António Salvado 
Nasceu em Castelo Branco a 20 de Fevereiro de 1936 - Portugal

In O Gosto de Escrever (1ª ed. 1997)
Poema incluído na Obra III, A Mar Arte, 1999


2 comentários:

Carol Timm disse...

Hay,

Esse é uma daqueles poemas de ausências imensas.

Sempre que olho essa foto (no entanto) lembro na hora de um poema bonito que falava de um trem na neve, que uma colega um dia escreveu.

Bjs,
carol

Anônimo disse...

Fantástica, a profundidade de António Salvado.